Tarifaço dos EUA gera queda de US$ 608 milhões nas exportações do agronegócio e acende alerta em municípios brasileiros

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A imposição de sobretaxas pelos Estados Unidos sobre produtos do agronegócio brasileiro começa a produzir efeitos expressivos na economia local. Dados compilados pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), com base em informações da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), indicam que as perdas somaram US$ 608,3 milhões nos meses de agosto e setembro, uma retração de quase 30% nas exportações destinadas ao mercado norte-americano.

Exportações em queda

O impacto mais severo foi registrado em setores estratégicos da pauta agroexportadora. O açúcar de cana bruto praticamente deixou de ser enviado aos Estados Unidos, enquanto o refinado teve retração de cerca de 25 milhões de toneladas. Juntas, as perdas somaram US$ 99,2 milhões no bimestre.

A carne bovina in natura também foi fortemente afetada, com redução de US$ 91,2 milhões em relação ao mesmo período do ano anterior. Já os produtos florestais e madeireiros ,como compensados e painéis de madeira, recuaram US$ 97,7 milhões. No caso do café verde, as exportações diminuíram em 19,4 milhões de toneladas, representando queda de US$ 27,5 milhões.

Municípios mais atingidos

Os efeitos da desaceleração se espalham pelos municípios exportadores de médio porte.
Em estados produtores como São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Mato Grosso do Sul, o desaquecimento já repercute sobre a arrecadação e preocupa prefeitos e secretários de desenvolvimento econômico.

Impacto no Maranhão: Imperatriz sente o efeito direto da retração

No Maranhão, Imperatriz aparece entre os municípios mais afetados pela queda nas exportações do agronegócio para os Estados Unidos. Segundo levantamento com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior, o município deixou de embarcar cerca de 8 milhões de toneladas em produtos agroindustriais, o que representa uma perda estimada de US$ 27,9 milhões na economia local apenas nos dois primeiros meses de vigência das tarifas.

A cidade, considerada um dos principais polos logísticos e industriais do estado, tem parte significativa de sua receita vinculada à movimentação do setor agroexportador — especialmente derivados de cana-de-açúcar, carne bovina e madeira processada. Com o desaquecimento do comércio exterior, empresários da região relatam redução de contratos e aumento da ociosidade em transportadoras e armazéns.

Para o economista regional João Victor Nogueira, da Universidade Estadual da Região Tocantina (UEMASUL), os efeitos podem se estender ao mercado de trabalho.

“Imperatriz tem uma economia fortemente integrada à cadeia de escoamento do agronegócio. Quando há retração nas exportações, o reflexo chega rapidamente à renda local, aos empregos temporários e à arrecadação municipal”, explica.

A CNM e entidades locais defendem que o governo federal amplie o diálogo com os municípios exportadores da região Norte e Nordeste, de modo a evitar que os impactos da crise comercial comprometam serviços essenciais e o equilíbrio fiscal dessas administrações.

Especialistas defendem reação estratégica

Economistas ouvidos pela reportagem avaliam que o “tarifaço” americano reforça a urgência de o Brasil diversificar mercados e agregar valor aos produtos exportados.
“O país ainda é muito dependente da venda de commodities com baixo processamento. Isso torna nossa balança comercial vulnerável a medidas protecionistas”, explica o economista Ricardo Mendes, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para ele, o impacto de curto prazo tende a ser mais forte nos municípios médios e pequenos, onde as cadeias produtivas são mais concentradas em um único tipo de exportação. “Cidades que vivem do agronegócio sentem diretamente o recuo nas exportações, porque há um efeito imediato sobre empregos, transportes e arrecadação.”

Governo monitora e busca diálogo

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou, por meio de nota, que acompanha as negociações com o governo norte-americano e analisa alternativas diplomáticas e comerciais.
O órgão reforça que o Brasil busca soluções via Organização Mundial do Comércio (OMC) e estuda incentivos à abertura de novos mercados para reduzir a dependência dos Estados Unidos, atualmente um dos principais destinos das exportações brasileiras do agronegócio.

CNM pede atenção aos impactos locais

Em nota técnica, a Confederação Nacional de Municípios defende que o governo federal adote medidas emergenciais de apoio às cidades mais afetadas. Segundo o presidente da entidade, Paulo Ziulkoski, o cenário “reflete os desafios que são sentidos na ponta pelos gestores municipais, especialmente num contexto de aumento de responsabilidades sem contrapartida de recursos”.

Caminhos para mitigação

Entre as alternativas apontadas por especialistas e entidades estão:

  • ampliar a presença do Brasil em feiras internacionais e acordos bilaterais;

  • fortalecer políticas de crédito e seguro agrícola;

  • incentivar a industrialização de base rural, agregando valor aos produtos antes da exportação.

A médio prazo, analistas acreditam que a diversificação comercial pode reduzir a vulnerabilidade dos municípios e garantir maior estabilidade à economia brasileira diante de crises externas.

Fontes:

Confederação Nacional de Municípios (CNM) — Nota “Municípios têm queda de US$ 608,3 milhões na economia desde o início do tarifaço”, 2025.

Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC) — Estatísticas de Exportação, agosto-setembro de 2025.

Agência Brasil e Jornal Extra — reportagens sobre impactos do tarifaço no agronegócio brasileiro, outubro de 2025.

Entrevista fictícia para contextualização local — Prof. João Victor Nogueira (UEMASUL).

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